15/06/2011

poesia

à noite, com a janela semi aberta, os grilos embalam o meu sono. de manhã, o cantar dos pássaros desperta-me para mais um dia. o dia.

13/06/2011

123º aniverário de Fernando Pessoa*
















Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»

Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa, daqui.

*excelente motivo para ressuscitar o blogue.